quinta-feira, julho 28, 2005

Meta Índia + Separados

Dureza total, clima ruim pra caralho, mas muita coisa pra fazer rolar...

Bia acordou fez alguns telefonemas, e disse "Liguei pro Aman, desmarquei tudo, vou fazer uma reunião com o Ashish e pedir um tradutor Português-Hindi"... Eu questionei alguns pontos dessa decisão, mas ela seguiu firme e forte na sua decisão... fiquei preocupado
com o seguinte: Se for pra resolver o problema, o Aman é demitido já e Ashish sai correndo atrás de um tradutor como o que a Bia especificou... com isso perdemos algumas semanas, péssima idéia. Se não demitir o Aman já, não existe pressão pra contratar outro tradutor e tudo continua na mesma, péssima idéia. Com isso conclui que a decisão da bia era um movimento ruim, muito radical, pouco efetivo e poderia gerar um certo desgaste.

Não apoiei a empreitada, a bia foi sozinha no sarai e eu fui sozinho para o Lnjp... Essa foi a melhor coisa que fiz, cheguei lá não tinha luz elétrica, calor muito forte, tentei explicar porque o Aman e a Beatriz não estavam lá, foi muito divertido pq eu não falo bem nem eles , usamos um vocabulário mais simples, uma gramática de índio e todo correu bem hehheh.

Conheci Ashish Negi, um moleque cabeludo, cheio de gás, acha que sabe tudo , ele fez vários questionamentos técnicos sobre reciclagem de computadores, tipo : "Pq vcs não aproveitam placas-mãe danificadas ?", "O que vcs fazem com o material que não pode ser reaproveitado ?", "O que vcs tem pra nós ? Só isso ? Isso a gente já sabe ! O que mais vc tem ai ?". Muuuito firmeza o moleque, ele me contou que já ocorreram inúmeros, mas inúmeros workshops de montagem de micros nos cybermohallas, e que o pessoal de dakshin puri é coxa, eles nunca aprendem nada (gargalhadas generalizadas). Me contaram que a Pinky é a mais velha no cybermohalla (25), e que ela fez todos os workshops e não aprendeu a usar direito o computador, montar micros nem nada... eles zoaram muito.

Perguntou sobre o mercado de PCs no Brasil, de quebra viu o andarilho e disse: "Velhinho seu laptop hein ?"... me disse que um bom laptop aqui custa 44000 ruppias, coisa de 2400 reais...
O telefone tocou, era o Karim, Karim é o Fernando dos cybermohallas heheh, é um cara com que me identifico muito, ele administra as redes dos compughar, ensina a molecada a como não destruir a rede, administrar pequenos pepinos, conta um monte de histórias... manja alguma coisa, assim como eu hehheh. "hello Fernando, please try setup the internet conection in Lnjp!".
Eu juro que tentei, eles tem um modem paralelo ligado a uma linha telefonica dedicada ( preço fixo ), sendo assim não há segredo, basta conectar... eles usam gentoo nos cybermohallas, uma distro que conheço muito bem, alterei todos as configurações, mudei uma porrada de scripts e só recebia BUSY, BUSY, BUSY pra qualquer número, depois de 1 hora eu tive a curiosidade de colocar meu fone de ouvido na saída P2 do modem... uma voz susurrante dizia algo em inglês, e depois em hindi seguido de um tu...tu...tu...

Tirei o modem da linha telefonica e botei um telefone comum... "Your line is disable, please contact you provider...Apna he disable apkahe line, chiakta apka privider...tu...tu...tu....". Sem comentários, os caras não pagaram a conta.

Com três horas de atraso o Karim chegou e desabou no chão : "Hei Fernando, you drive ?"... "Nop"..."You're a Luck Man", ele estava no trânsito hua hua hua, conversamos sobre o incidente Aman ,ele lamentou esse problema, disse que teria uma reunião com a Monica e o Deebeesh, então falamos sobre o Big Workshop, ele pediu uma reunião sobre o assunto.

Falamos sobre tecnologia e meta-índia, os cybermohalla tem pouco interesse em adotar máquinas velhas, o projeto tem grana, não tem ambição de crescer, mas mesmo assim o Karim encherga essa possibilidade interessante mesmo com todos os problemas que isso vai gerar:

*** CyberMohalla não é acesso a internet : CyberMohalla grosseiramente pode ser chamado de centro de mídia, e para isso é necessário computadores com capacidade multimídia, como Gimp (ok) , Audacity (Em máquina velha, Nem), OOfice (Nem), Abiword (Nem), Cinelerra (Nem), Ardour (Nem), Firefox (Nem), Gravação de CD (ok) ... e de preferencia em tudo em Hindi...

O grande problema, é uma tendencia forte do software livre em ficar pesado, infelizmente com raríssimas excessões todos os softwares livre estão seguindo a lógica macabra do mercado que dita que vc deve adquirir um novo computador a cada 3 ou 4 anos. É claro a velocidade em que isso acontece é diferente para cada tipo de software, mas na média isso já está limitando uma instalação completa e funcional do linux a computadores pII com no mínimo 64Mb de RAM. Para máquinas velhas pro cybermohalla levantamos a seguinte lista de softwares :

* Processamendo de Textos : gedit, xedit, nedit, emacs ou vim.
* Browser : Dillo, Opera 5 ou elinks-x11
* Graficos : Gimp

Nada de Áudio ou vídeo nessas estações:
Só comentando: O opera mesmo feito em QT ainda é o Browser mais leve dos top de linha, o firefox não é leve, não viaja ! O Minimo, browser leve da mozilla fundation, não é leve, tenta rodar ele num p100 com 32 e depois me conta.

Abiword não é mais boa opção pra máquina velha, aquele monte de rederizadores de fontes e novas funcionalidade do gtk2 dobraram o peso do bixo... O gimp2 ainda é usavel em máquinas velhas, ainda.

Tirei da mala um velho projeto meu, chamado STLTS (Small Tatical Linux Terminal Server), onde máquinas com no máximo 64 Mb de RAM rodariam aplicações específicas remotamente, um servidor roda firefox, o outro só roda openoffice etc... Como os servidores vão rodar várias instâncias do mesmo software pode haver uma economia enorme de RAM no servidor e um desempenho decente para os clientes.
Isso é quase como um cluster sem migração de processos, máquinas especializadas em determinadas aplicações.
O Karim achou a idéia legal, mas disse que não saberia como fazer, eu dei os passos, mas esqueci o fundamental... me oferecer pra ajudar hehehhe Ainda há tempo.

Outro problema, a questão da língua... muitos dos softwares mais leves não tem suporte a UTF-8 ou fontes TrueType necessárias para internacionalização do software... isso gera uma demanda muito forte que o karim não sabe como resolver...

Bom cheguei em casa, comi Lady Fingers (Quiabo), e dormi, várias horas depois a bia chegou. O Ashish disse que vai tentar um tradutor, mas pode ser muito caro coisa de 1000 rupias dia (R$ 50), não deu muitas esperanças. A bia encontrou o Deebeesh também, e falou sobre uma reunião de planejamento na segunda feira... é isso.

Lnjp + aperreio

Hoje estou em LnJp, uma "favela" que fica em um terreno cujo o dono é um banco muçulmano...
O lugar é muito feio, sujo, eu vi um tiozinho puxando uma carroça com carne crua recem abatida e centenas de moscas fazendo a festa. Essa é uma indicação de território muçulmano, os hindus não comem carne, certo eles, comer qualquer proteína animal por aqui deve ser um atentado terrorista a saúde alheia. Em todos os lugares qualquer tipo de carne é mal acondicionada, espetos de frango ao ar livre durante todo o dia, as moscas pondo ovos o dia inteiro hhahaha Imagino qual deve ser a porcentagem entre as proteínas de frango e dos insetos que põe seus ovos nela.
Surpreso mas nem tanto, fomos bem recebidos e a galera daqui é menos passíva que os de Dakshin Puri, o tempo todo perguntando sobre sugestões para os textos e opiniões diversas... mas é difícil, ter uma opinião ou sugerir algo apenas com o resumo dos textos...
O lnjp é o lab mais antigo dos cybermohalla e vários jovens que estão lá hoje são da época da inauguração. Durante os intervalos crianças que nem devem saber escrever ficam tentando usar os micros sem ao menos saber o que é um mouse, no fim acabam se contentando (heheh) apenas com alguns joguinhos e tals...
Rolou uma discussão meio tosca entre eu e a bia, com o ff de ouvinte sobre o Aman... o problema foi o seguinte, o cara não traduz o que não entende, se pra ele uma idéia não faz sentido ele fica discutindo... discutindo... Se tenho extensa e complexa idéia o ideal é quebrar em pedacinhos e pedir pro cara traduzir, com ele isso não funciona. Se tentar passar pra ele a idéia completa, ele entende e resume em uma linha pros meninos... porra !
O cara teve a pachorra de mandar um email pro Ashish e a Shveta dizendo que estavamos gostando das traduções dele, pqp, eu não gosto das traduções dele. Eu sugeri a bia a escrever uma pequena réplica ao email dele, afinal ele mentiu, com cópia pro Ashish e Shveta, ela disse não, eu disse que faria mesmo com meu inglês ruim. Aproveitei um email do ff pra relatar parte do problema, e começou o flame war... A bia acha que ele tá melhorando, antes ele não traduzia nada, agora ele traduz alguma coisa e que uma carta poderia pegar mal coisa e talz... eu disse que não mandaria uma carta seria algo curto blablabla. Deixei claro que meu trabalho aqui na índia não seria completo sem falar da coisa filosófica que está por traz do nosso trabalho... a bia falou que o trabalho dela tava rolando legal... eu lembrei a ela que eu peguei o mesmo avião, também vim pra cá e o meu trabalho corria risco de não rolar por causa do tradutor... A discussão foi pro lado pessoal e ai fudeu tudo.
Desde esse episódio silêncio quase total...

segunda-feira, julho 25, 2005

Oficina II

Depois de ter perdido uma foto incrivel de um elefante, perdi outra foto incrível de uma fila indiana de camelos e um macaco no metro... Pelo menos estamos barganhando mais com os motoristas de Rickshaw, mais exigentes com o comercio e comendo mais. A Bia tá melhor, tá até falando de fazer uma proposta pra voltar pra cá no fim do ano. Ela conheceu Priya que faz rádio no Sarai e pensa em desenvolver umas paradas junto com ela.
A gente conheceu um Holandês que pesquisa sobre desenvolvimento auto-sustentável, ele disse que conheceu o FF e o Alê no Incommunicado bla bla bla.
Bom, a minha fase de sombra por aqui já passou, como só a bia falava no começo durante as apresentações eu ficava meio no papel de homem samambaia, com o tempo as pessoas do sarai nem tentavam falar comigo... isso foi péssimo, por causa disso perdi o papo com o Deebeesh (nem fui chamado!). Somando isso com o episódio dos livros, realmente não fiquei muito feliz com essa situação.
Com as oficinas a parada ficou um pouco diferente, estou sendo obrigado a falar pois tenho dois firewalls na minha frente: Bia e Aman... A merda é ser interpretado e não traduzido ! Eu falo algumas coisas que são barradas pela própria Bia devido a suas limitações tecnicas ou por achar que não é relevante, e outras são barradas pelo Aman pelo mesmo motivo, muitas vezes me vi na situação de ter que explicar, em off, alguns detalhes diretamente para os jovens em uma mistura de português com hindi e inglês, muito e muito gesto... se no primeiro dia de oficina fiquei pendurado totalmente na Bia, no segundo e terceiro ela teve tempo até pra redigir um texto enquanto eu dava a oficina. Somente em casos mais complicados eu recorria a Bia, no geral eu os os indianos perguntavamos como se falava essa ou aquela palavra em inglês/português.
Isso foi muito bom porque quebrou uma certa distância entre os jovens e eu, algumas meninas demoraram 3 dias pra descobrir que eu não falava inglês muito bem, penso que elas achavam que eu não queria falar diretamente com eles ou coisas do tipo. Agora fiz até umas amizades, os garotos me chamam de Baico (irmãozão), converso na medida do possível com as meninas que falam inglês sem a ajuda da Bia e com outras vai com gestos mesmo, como no caso da Pinky e da Sunita (Astrid).
Falando em Pinky, tenho a impressão que ela tá me sondando hahaha, olhe minhas fotos no flickr, ela sempre está do meu lado ou muito proxima de mim, vira e mexe ela pergunta sobre coisas que eu gosto, o que não gosto, que quer aprender português, ir pro Brasil, que meu sorriso é lindo, que meus olhos são bonitos etc...etc..etc... Sem tirar que muitas vezes ela conversa com a Sunita (a que fala inglês) e as duas ficam cochichando olhando pra mim, o tradutor entende o que elas falam, olha pra mim da uma rizadinha levanta e sai fora... M.E.D.O. Será que estão tramando um casamento ? hahhaha
Ah, a Pinky nos convidou para jantar na casa de seu tio, rapaz... nunca comi uma comida tão boa desde que cheguei aqui, o tio da Pinky é um artista plástico premiado internacionalmente, 4 vezes, ele tem uma deficiência na perna e ele trabalha em diversas ONGs aqui em Delhi, o cara é bom, pena que ele vende todos os seus quadros, vimos apenas fotos.
A oficina teve seu conteudo técnico bem administrado, muitas vezes tive que me aprofundar bastante em alguns assuntos, a molecada não se contenta com pouco, realmente pra dar uma oficina pra essa garotada tem que estar muito bem preparado e dominar por completo o assunto, se não você é destruido. Nunca me aprofundei tanto numa oficina,tive que explicar as diferenças entre o processo de gravação de um CD-R, CD-RW... funcionamento interno de um HD, floppy e o papel do sistema operacional nisso tudo.
Mas a parte conceitual de metareciclagem foi barrado pelo firewall (aman) em vez de traduzir ficou discutindo com a gente sobre a bagaça...
Bom, de bônus dei uma oficina de animação, eles fazem muita coisa com GIMP, é assustador a paciência que eles têm pra fazer trablhos incríveis com a ferramenta, mas não vi nenhum trabalho com máquinas fotográficas, tipo animação com objetos ou desenhos, propus algumas animações na lousa e com objetos, os resultados foram muito legais.
Além de propor uma oficina de pintura de máquinas, que não rolou direito ainda por falta de máquinas, estamos esperando o sarai conseguir as máquinas... seja como for pintamos uma máquina com a ajuda do premiado tio da Pinky.
Propus também uma oficina de pipas pro dia 14 e 15 de agosto, vai vendo....

Oficina

Acho que estamos ficando conhecidos no bairro, pela manhã quando tentamos pegar um auto-rickshaw até o Viraat cinema em dakshin puri, sistematicamente os caras iam fugindo, "Putz, aqueles dois gringos que nos fazem atravessar a cidade por míseras 100 ruppias!"Depois de uma certa procura achamos um motorista que já tinha feito a corrida com a gente antes, ai rolou tranquilo.
Chegamos lá, não tinha computadores ehheh, não sei o que aconteceu, mas fiz uma oficina LowTech com apenas um computador e alguns desenhos, tentei fazer uma associação entre o funcionamento do computador e o compughar, até que deu + ou - certo, pra eles a placa de vídeo eram as paredes que mostravam seu trabalho, a memória RAM eram blocos de nota, o HD eram livros com o resultado dos trabalhos já desenvolvidos, placa de rede era a porta (!?), placa de som o mixer do lugar, a CPU eram eles mesmos e a placa mãe o espaço físico.
Impressionante, mas nunca consegui repetir uma oficina metareciclagem cada uma é completamente diferente da outra, essa daqui então... A abordagem é diferente, eles discutiam entre eles o tempo todo mas nosso interprete não traduzia as discussões... Aliás, o que me frustrou profundamente era o Aman que bloqueou boa parte das discussões mais profundas que propus, discussões sobre reapropriação tecnológica, lógica de mercado... O Aman não entendia, e ficava discutindo com a gente ao invés de traduzir... ele sempre quer interpretar as traduções, é um saco isso. Se nas próximas etapas das oficinas o Karim ou a Priya não estiverem disponíveis, seremos mais uma vez superficiais.
Os indianos são muito esculaxados, eu explicava a forma correta de manusear os equipos 10 vezes, e eles faziam errado dez vezes, parece desobediência civil... temo pela segurança deles, enquanto eu fazia a demonstração com a placa mãe ligada uma garota fazia "Aleluia" com uma caneta e uns plasticos quase em cima da placa mãe.
Bom, no geral eles aceitaram bem a oficina, disseram que aqui os cursos de computação são caros e sem nenhuma estrutura, e que essa oficina ofereceu muito mais do que eles já tiveram e que acrescentou uma nova dimensão ao trabalho deles. Bom espero que eles estejam sendo sinceros...
Uma coisa que me chocou bastante é o fato de nenhum deles saberem o que é playstation (!), essa é uma diferença cultural monstro, mesmo o garoto mais pobre de cidades do interior sabem o que é um video-game, mesmo sem ter visto um. Quando eu era moleque não tinha video game mas pelo menos 1 dos meus amigos tinha um de última geração... será que aqui garotos pobres não tem amizades com não pobres ? Mesmo assim no brasil a rede globo faz propaganda de produtos de luxo, se seu amigo não tem, pelo menos a TV mostra, será que aqui não rola isso ?
Bizarro...

quarta-feira, julho 20, 2005

O mala

Ontem foi dia de visita ao Lab de Dakshinpuri, pegamos um rickshaw e percorremos ao redor de onde a gente mora... Mais e mais miséria, sujeira, cherão, e muitas moscas... Tinha um maluco que tava sentado em uma cadeira com algumas centenas de moscas ao redor, tinha tanta mosca no pé do cara que parecia uma meia. Ruas largas com barracos e poças de água. Pegamos um transito danado, chegamos atrasados mas blz.
No local surpreendentemente o interprete, Aman começou a conduzir uma breve apresentação de 40 e poucos minutos sobre a bia, eu, meta e principalmente ele mesmo, ele é muito comunicativo e deve ser engraçado, as pessoas riam dele quase o tempo todo. Eu vi que a conversa estava esquentando, apesar de não traduzir nada pra gente e conversa tava evoluindo, comecei a gravar a parada no andarilho, a bia tava um tanto avoada, hehehe Belo interprete.
Várias histórinhas rolaram, gravei umas 3 horas de áudio depois dou um jeito de botar no ar... se bem que tá quase tudo em hind, lembre-se que nosso interprete quer se integrar com o povo, traduzir é muito chato...
Chamei o Love pra "conversar", depois de inúmeras tentativas frustradas de comunicação ele me perguntou: " Como você pode ser um bom técnico sem um bom inglês", ai eu expliquei que eu leio, ouço mas não falo bem nem escrevo. Ele não entendia pq eu tinha um inglês ruim e a bia um bom inglês, expliquei que estudei em escola pública e que quando eu tinha aula de inglês sempre tinha a mesma aula, o verbo "to be" e que no Brasil escola pública é muito pior que as privadas.
Parece que aqui na índia as escolas públicas são boas, acredito, quem estuda tem boas noções de matemática, física e inglês, mas segundo o Love as escolas particulares são ainda melhores.
Como vcs viram, no final das contas consegui conversar com o Love hahah. Perguntei sobre seu interesse sobre computadores, ele me disse que seu maior sonho é ser um big fodão em linux, eu falei que é necessário paciência e trabalho duro, e ele completou : "Realmente não existe atalhos para meu sonho, então vqv !". Deve ser cultural, mas aqui na índia é dada uma importância muito grande aos techs, tão grande quanto aos humanos, não existe a besteira de tentar enquadrar as pessoas em tipos, não rola esteriótipo nem classificações... Tipo se vc é geek vc lê isso, compra aquilo, veste aquilo outro, não dorme de madrugada e não tem namorada. Aqui é todo mundo meio igual, não tem aquele papo de capitão de time de futebol-americano idolatrado pelas garotinhas e o nerd barrigudo, tímido que não consegue se expressar e por isso não tem amigos. Eita povo evoluido !
Chegamos em casa, e a Bia começou a dar seus primeiros sinais de estafa física e mental, anda dando umas tossidas, teve umas diarréias, dores de cabeça, nas costas e soltou "Como eu queria voltar dos Labs e ir pra casa".
Eu estou bem, dormindo entre 8 e 10 horas por, me alimentando 5 vezes ao dia (média de 300 Kcal), tomando 2,356 litros de água por dia, sem tosse, sem dores, sem diarréia, sem estafa ... apenas com saudades de vcs !

Jantar vermelho

No sábado conhecemos o nosso interprete para a nossa aventura nos cybermohalla, seu nome é Aman, super comunicativo, parece ser um cara legal... por outro lado ele não é do Sarai, e não conhece nada dos cybermohalla. Recebemos, ou a Bia recebeu sei lá, uns livrinhos muito loucos sobre o cybermohalla, disse brincando: "já era, esses são meus", ela respondeu algo do tipo "Você não vai ler mesmo"... ops! fiquei pensativo, quase chateado com essa resposta. Fiquei me sentindo um ignorante, quase como uma outra vez que o ff me emprestou uns livros e quase perguntou se eu estava entendendo. Existirá o dia em que os humanos vão saber dar o devido valor ao conhecimento produzido e toda cultura tech ? Quando eu passo por situações parecidas com essas, 100% das vezes fora do meio tech, lembro de algumas situações onde humanos questionam o sentido para a evolução tecnologicas e algumas vezes soltando pérolas como "tech por tech não leva a lugar algum"... pra mim é dificil concordar com isso, até parece que techs, humanos e suas culturas são coisas completamente diferentes... tech por tech tem um sentido que os humanos não entendem. Pq não entendem ? Não sei não, não sou humano... Viajando nesse papo, a diferença básica entre uma espécie e outra é a forma de ver as coisas, enquanto um foca em como a coisa funciona a outra foca em como usar a coisa, qual é a diferença ? Eu não saberia usar uma coisa sem saber minimamente como ela funciona, e muito menos saberia como a coisa funciona sem saber pra que ela serve.
E por favor, nerd é nome de filme americano porco e ruim, geek é o nome de uma revista para pra babaca entediado por não saber como vai gastar a mesada do mês.
No domingo resolvemos bancar os turistas, fiz um roteirinho no mapa pra visitar váááários lugares entre a estação de Metro Kashimire Gate e o Jantar Mantar um pouco ao sul do Connaugth Place. Chegamos em Kashimire Gate, que é tipo uma estação Sé do metro de São Paulo, e descemos a rua Lothian Road, que se parece muito com a rua Butantã, mas com a diferença que dezenas de familias moram em frente as lojas fechadas, lavando roupa, cozinhando, estendendo roupa no varal entre a placa de uma loja e outra, sujeira, sujeira, sujeira e pela primeira vez na minha vida não me senti a vontade pra tirar fotos da miseria. Fiz um trabalho uma vez sobre esse assunto e entrei em favelas de sampa e fotografei moradores de rua e jovens abandonados, mesmo sobre uma saraivada de pedradas não fiquei paralizado como nesse lugar...
Notei que os cabelereiros que trabalham na rua tem como clientes outros moradores de rua, na verdade Delhi tem todo um preparo para os moradores de rua com fontes de água "potável", cabelereiros, "restaurantes" de calçada, bazares, borracharias, oficinas mecâncias etc...
Continuamos a descer a rua, passamos por um prédio dos correios, sim isso existe aqui hhehhee, passamos por baixo de uma ponte sinistra com gente dormindo, eu vi um anão e um cara aleijado andando com o auxilio de um pedaço de bambú. Finalmente chegamos a rua do Red Fort, a famosa Netaji Subhash, ela tem uns comercios podres na lateral mas a comida é barata, vai encarar ?
Chegamos no Red Fort, lugar imenso, muitas pessoas principalmente indianos. Tinha uma fila enorme, quando entramos nela uma senhora com cracha e tudo nos levou para o guiche, pagamos 2 dolares pra entrar, perguntaram se queriamos um guia, dissemos não e ela alfinetou umas bandeiras da índia na nossa roupa e começou a nos cercar pedindo dinheiro, mas não dizia quanto, oferecemos 10 e ela recusou, não tinhamos trocado ela disse que tinha troco, dei 50 e ela saiu correndo... É, é isso mesmo que vc está pensando ai.
Na caruda cortamos fila, e entramos no lugar, lugar gigante, bonito, tinha um corredor cheio de turistas e lojas, demos um rolê nas dependencias externas do imperador, o lugar devia se realmente bonito quando funcionava, tem vários canais por onde devia passar água, mas os arqueologistas devem ter vetado. Não dá pra falar muito , é melhor olhar as fotos http://www.flickr.com/photos/slave.
Depois disso fomos pro Connagth Place, comemos no Mac Donnalds, hahhaha, todo o cardápio é vegetariano, e os preços são insanos para o povo daqui, em reais é o mesmo preço que se paga no Brasil. Cheio de gringos e indianos com grana... é incrivel como a galera atravessa o mundo pra comer nos mesmos lugares, todo lanche do Mc Donnalds tem o mesmo gosto, os refrigerantes idem.
Corremos para o Jantar Mantar, esse era o lugar que vim conhecer na Índia, é um observatório de astronomia bem sofisticado, os caras podiam localizar com precisão as constelações, medir distâncias, trajetórias e até a dimensão de corpos celestes. Nunca vi observatórios astronomicos "analógicos" antes... Tenho certeza que a Maíra ia pirar hehhehehe
Foi um dia e tanto, mas melhor registrado em imagens: http://www.flickr.com/photos/slave.

sexta-feira, julho 15, 2005

Onde você mora mesmo ?

Nos últimos dias nada de extraordinário tem acontecido, talvez uma coisa, o andarilho esta no mínimo 2 vezes mais rápido do que era... O tempo de boot foi reduzido, meus jogos estão mais rápidos... bizarro. Eu não fiz nada demais, só mudei a ordem dos dispositivos no boot...
Bom, algumas coisas tem me chamado atenção aqui na índia, as indianas ! Eu nunca vi mulher trabalhar tão pesado no brasil, é comum demais vc ver mulheres, muito bem vestidas pra variar, com picaretas ou levando tijolos com as mãos. Normalmente qd eu vejo mulheres trabalhando num raio de no máximo 5 metros tem um bebe ou criança com no máximo 3 anos correndo pelada ao redor. Aqui tanto os homens quanto as mulheres são muito fracos, pessoas com a minha altura são um tanto incomuns, basta olhar a minha foto com o Love, eu sou gigante perto dele e ele não é nenhum molequinho. Normalmente somente os soldados tem um porte parecido com o meu, no metro é bizarro, os indianos esbarram em mim e eu não saio do lugar...
De um trecho do metro de superfície passa por cima do rio Yamuna, é uma das paisagens mais maravilhosas que já vi... é outro mundo, de um lado da pra ver algumas plantações e casas de bambu semi-inundadas, dezenas de vacas tomando um banhão e crianças se divertindocom a lama do rio, do outro lado barracos e casas embaixo da ponte, um bairro inteiro.., Quando chove as plantações são totalmente inundadas, e várias casas ficam com água até o teto, cada dia é um cenário diferente, gostaria de um dia chegar mais perto e bater umas fotos.
A pobreza de uma das cidades mais ricas do país é muito intrigante, chega ao ponto de motoristas de rickshaw e auto-rickshaw morarem em seus veículos. Milhares de pessoas moram nas ruas de Delhi, é comum flagrar a distribuição de comida próximo a templos hindus,e cada vez mais observo que o trabalho dessa gente é sua casa... As barracas de fruta são casas, próximo aos multirões tem barracas plásticas... E o mais absurdo, todo mundo numa boa, sem assaltos, sem vícios, sem violência.
As vezes me pergunto, como um lugar tão caótico, onde tudo é exagerado, tudo é tão improvisado não se desintegra como nas cidades do ocidente ? No episódio do metro, se fosse em São Paulo certamente teria alguém sangrando, e não dando risada... As pessoas jamais se sujeitariam a miséria de forma tão pacífica em nenhum lugar do Brasil. No Brasil jamais seria possível andar de rickshaw, ou seguir algum guia desses que encontramos nas esquinas do centro... Eu e a Bia estavamos dando um role de rickshaw, quando derepente o motorista botou o pé esquerdo pra fora e começou a ajudar um carroceiro a vencer uma pequena ladeira. Fiquei pasmo, apesar de toda a imobilidade social daqui, existe cooperação entre castas diferentes, mesmo das mais altas para as mais baixas...
Se não fosse tanta pobreza arriscaria dizer que esse lugar é o mais próximo que podemos chegar do paraíso na terra, apesar do lugar todo ser um grande calderão as pessoas daqui são muito iluminadas, ao ponto de não serem corrompidas por pequenos detalhes materiais...

Caiu a ficha

Desde que cheguei aqui é a primeira vez que me sinto realmente sozinho, fico doente toda vez que percebo que não posso pegar o telefone e sair ligando...
Sinto falta de conversar, de dar risada, viajar na maionese, planejar meu próximo fiasco ... pô, estou rindo muito pouco aqui. Sinto que meu cérebro está entrando em stand-by por falta de uso... Acho que isso vai passar qd começarem as oficinas
... até lá, lutando contra o sono.

Mais um dia comum...

Depois de um dia sem grandes novidade, a não ser uma crise com minha namorada por msn, o dia de hoje foi bem interessante.
Não tenho mais noites mal dormidas depois que descobri que o outro quarto tem 100 vezes menos pernilongos, um ventilador melhor e uma cama de casal.
Como sempre, corremos pro metro, quase vazio, até que houve uma parada no meio do caminho, coisa rápida um ou dois minutos, quando chegamos as estação Saalampur o trem não partiu... ficamos mais de 30 minutos sem saber o oque tava rolando, até que finalmente um pronunciamento feito em hindi fez com que a galera em massa sair do nosso trem e correr para a outra plataforma, onde um trem absudamente lotado parou... Olhei pra bia, a bia olhou pra mim e bóra ! Mergulhamos no meio daquele monte de indianos, a coisa tava muto lotada, levou quase 10 minutos só pra fechar a porta, coisa de loco. Chegando na estação seguinte, Shastri Park, pelo vidro da porta dava pra ver a galera se preparando pra invadir o trem já lotado, quando a porta abriu houve um grito de guerra e a galera começou a invadir, nunca vi isso hua huah ua. Dentro do trem o povo apertado rachava de rir... O bom humor dos indianos é assustador no brasil certamente teriamos cutuveladas, voadoras gente reclamando...
No fim das contas parece que um trem quebrou no meio do caminho e os trilhos deles não tem desvios como nos de Sampa...gastamos mas de uma hora num trecho de 5 minutos mas foi engraçado.
Chegamos no Sarai e finalmente depois de semanas conversei com uma galera de Sampa pelo Skype, tentei falar com meus pais, mas antes tive que arrumar meu próprio computador do brasil... nunca fiz um help desk de tão longe heehee.
O pessoal lá de casa não tava muito afim de falar, ficavam meio que discutindo e eu só ouvindo....
Dibshi chamou a bia pra conversar, perdi essa parte, e ela disse que as paradas são muito abertas e que vai ter alguém do sarai pra nos acompanhar como uma sombra em todos os cybermohallas.
Tenho na minha cabeça um formato de oficina aberto, interativo e que eu faça o menor uso possível do interprete hindú... não sei ainda direito qual vai ser o conteúdo, mas sei que terei que traduzir parte da oficina de metareciclagem pra inglês... Eu tava afim também de tocar o komain 0.4, todo baseado em uclibc com o pessoal mais hacker daqui... porém não senti firmeza neles, os caras são
bons programadores mas não sabem muito linux hehheh.
Bom, diariamente eu deito e fico vendo o ventilador rodar, penso na vida... e pensando na vida, em tudo que deu e está dando errado esse ano, meu curso na facú onde minha matrícula pro segundo semestre foi cancelada por que ao contrário de toda a USP onde a matrícula é feita pela internet, lá a matrícula é pela internet e ao vivo em duas vias.... Eu perdi essa parte da matricula ao vivo, fui convocado pra levar um documento assinado a dois dias atrás e como não rolou, me lasquei. Também não estou muito satisfeito com meu trampo no Minc, não é uma coisa muito estimulante, não deu pra pirar na batatinha até agora e não sei se vai dar pra pirar depois... Minha namorada também não tá muito feliz com nosso relacionamento, nem eu... alias eu não estou contente com nada na real.
Estava pensando num antigo convite de um velho guru, o RR, "vem morar no Rio!" pois é, estou realmente pensando nisso, passei boa parte da minha madrugada pensando nisso... sei lá , passar pelo menos uns seis
eses por lá... A comida é muito boa, o lugar e bem loco, não é tão caro quanto morar em Sampa e já tem uns nóia amigo meu morando lá em república então da pra dividir estadia... Quem sabe prestar vestibular na UFRJ e passar os próximos quatro anos por lá... Pensarei nisso com mais carinho...

terça-feira, julho 12, 2005

Como na tv, mas com cheiro

Delhi 11/07/2005

Mais uma noite mal dormida, apesar de ter chovido o calor e os pernilongos acabam com qualquer possíbilidade de uma noite tranquila de sono, talvez isso explique porque quase todos os indianos tem olhera.
Não falei dela antes, mas apareceu uma senhora aqui no nosso apartamento, ela é tipo uma doméstica, ela se veste absurdamente bem (como todas as mulheres daqui). Antes de ontem minhas roupas apareceram lavadas e estendidas no varal do quarto vazio, aqui temos três quartos, o meu quarto e da Bia, o quarto do Karunaka e um quarto com cama de casal que ninguém ta usando. E finalmente a dona que andou lavando minhas roupas apareceu, ela me viu pela fresta da porta e foi entrando dizendo : "namaste", qd ela viu a Bia de pijama tomou um susto hehehe, aqui todo mundo pensa que somos casados e que eu sou indiano... então sempre que alguém quer falar comigo fala em hindi... Ela gesticulou entendi que estava perguntando de roupa suja e tals, depois veio me mostrar um saquinho com sabão
, falando uma porrada de coisas a Bia em pânico por não entender nada também... Hoje ela apareceu de novo, e dessa vez ela olhou a geladeira, olhou a cozinha e chegou na Bia dizendo "money, money", e apontou uma foto com uns tomates, entendemos que a grana era pra comprar comida, mas não sabiamos como perguntar quanto demoramos uns 10 minutos pra fechar o leilão em 40 ruppias...
Tradicionalmente, acordamos e saímos pro sarai, e pela primeira vez desde que chegamos não fomos roubados pelos motoristas de rickshaw, normalmente pagamos 50 ruppias para ir até a estação de metro, dessa vez pagamos 30. Como já era tarde
umas 11h00 o metro estava lotado, aqui na índia o comercio só abre as 10h30 então o horário rush é mais tarde mesmo... Isso deve ser por causa das noites mal dormidas hehehh.
Com a chuva de madrugadada poças de cocô se formaram, e os cocôs que estavam duros e secos ficam moles e fedidos, alias depois da chuva essa cidade fede demais da conta. Sem contar que as barras das nossas calças ficam cheias de merda, mas os indianos continuam vestidos de branco e sem se sujar.
Chegamos no Sarai, e chegou um monte de gringos, mulheres e homens loiros e loiras de olhos azuis, acho que são holandeses e as mulheres inglesas pois eram todas muito feias e os homens baixinhos. Achamos o Joy, e corremos para o Último dos três labs, dessa vez o mais pobre de todos. Até aqui os labs eram em lugares asfaltados com casas jeitosas, por mais que o cybermohalla Dakshinpur fosse num lugar sujo e cheio de moscas não da pra comparar com esse... Mais uma vez são casas de tijolos, mas casas de um comodo só, sem móveis apertadas, crianças peladas correndo pelas poças de lama/merda doentes, outras chorando dividindo espaço de suas casas com animais, geralmente cabras... Em quase todas as casas, sempre com portas abertas, dava pra ver as pessoas trabalhando, descascando alguma coisa, lixando outra, ou cozinhando alguma coisa em um fogão improvisado no chão. Os corredores entre as casas são minusculos, só passa um por vez... Chegamos ao local, crianças bagunçando, cabras nas escadas, cocô de cabra espalhado por todos os lados, e um cheiro de mijo forte por toda a casa. Casa cheia de infiltrações e goteiras muito trash. No laboratório de informática, os tradicionais tapetes no chão, e jovens por todos os lados. Como sempre, nos apresentamos,falamos do nosso trabalho, tiramos as duvidas da garotada, fizemos algumas perguntas... uma coisa chamou a minha atenção, só tinha dois meninos lá o resto eram meninas... Os jovens muito dispersivos, qd começamos a conversar tinha umas 10 pessoas, no final do papo tinha umas 3 ou 4 incluindo o Shimshi que conhecemos no laboratório RnD (Arandi).
Essa experiencia me lembrou muito os Cajus, garotada desinteressada e dispersiva... Eu gostaria de saber como o Sarai avalia os diferentes cybermohallas, gostaria de saber se o fator miséria influência no andamento dos trabalhos deles.
O Joy nos levou de volta, na verdade parou no meio do caminho e disse "I'm goingg to left, and you to right, ask for patparganj",
mais uma vez eu e Bia nos viramos pra chegar em casa, mas tudo correu bem.
Chegando em casa, nosso quarto tinha uma lixeira, tinha troco em cima da minha mesa, comida na geladeira, e algumas frutas ehhehh
eu adoro a Privitka mesmo sem entender uma vírgula que sai da sua boca.
Amanhã Jeebshe e Monica chegam da holanda, eles são os chefes responsáveis pela nossa viajem, o dia vai ser tenso heehhhe

segunda-feira, julho 11, 2005

Dia produtivo

10/07/2005

Noite mal dormida, anda fazendo muito calor, coisa de 40 ou 45 graus... acordamos cedo, e corremos pro Sarai, onde Shveta disse que Karim estaria... E não estava, karim estava a 25 km de distancia em um dos cybermohalla hehehehe. Pois é, pegamos um rickshaw, e dessa vez com o taximetro ligado, se todos usasem o taximetro economizariamos muito heheh. Os motoristas cobram em média o dobro de preço da mesma corrida para um indiano, com o taxímetro ligado não sofremos tanto... Chegamos no espaço e rapidamente saimos para o outro cybemohalla o mais pobre de todos. O cybermohalla que visitamos anteriormente fica em uma região de "classe média", dessa vez entramos num favelão...
O lugar é exageradamente sujo, com animais mortos pelo chão, centenas de moscas em cadaveres e manchas no chão, milhares voando em todas as direções, como um enchame de abelhas, muitas pessoas jogando baralho, senhoras sentadas na porta de casa olhando movimento, crianças semi-nuas correndo pelas poças de lama e esgoto. Aqui os porcos e vacas se alimentam de lixo e esgoto, geralmente mergulhados em uma água verde...
Porém nessa favela não existem barracos, e as ruas e vielas são pavimentadas, é uma favela muito diferente das que vi ao pegar o metro... onde os barracos eram feitos de lona e bambu. Os moradores desse lugar, chamado Dakshin pertencem a uma casta mais alta do que os de barracas de lona, assim, mesmo sendo pobres se vestem exageradamente bem, as garotas são todas muito bem cuidadas e os rapazes bem vestidos. As casas são puxadinhos de 3,4 ou 5 andares, muito parecidas com as favelas do Rio, principalmente a rocinha.
No cybermohalla os jovens fizeram perguntas sobre o metareciclagem, fizeram perguntas cabeludas que eles mesmos respondiam, como:
"Aqui nós produzimos, audio, vídeo, animações e textos. Qual é o produto que o metareciclagem produz ?"
Depois de um tempo pensando, um outro jovem respondeu :
"Sua metodologia de trabalho é sua produção"
Há muito tempo não ouço essa expressão, uma vez acho que eu fiz essa mesma pergunta, e cheguei a mesma resposta...
Fizeram outras perguntas como :
"Como são planejados os labs ?"
"Como vcs pensam o futuro dos labs ?"
"Qual é a repercussão do trabalho do metareciclagem, nas comunidades ao redor ?"

Perguntas difíceis de serem respondidas já que cara esporo , e cada grupo tem respostas diferentes para essas perguntas.

Uma das jovens, a mais ativa delas, disse que eu sou muito quieto e não preciso ser assim lá, hehehe
Almoçamos com a galera, e demos uma volta pelo bairro... lá tem uma igreja católica em um puxadinho, mas ela ainda não está pronta
falta a cruz... A construção do prédio foi pirataria pura, os caras fizeram um barraco de madeira num terreno do governo e durante a calada da noite eles levantavam os muros de tijolos por dentro do barraco, ai foi só tirar as paredes de madeira hehhehe.
A religião deles, todas elas na verdade, estão muito bem demonstradas, em todos os cantos tem um mini-templo e geralmente alguém rezando.
Esse foi o melhor dia desde que chegamos, os garotos querem muito aprender reciclagem dos computadores, finalmente conseguimos tocar o Karim, que até nos convidou para jogar video game em sua casa.. estavamos mortos de cansaço, recusamos e viemos pra casa.

Amanhã é domingo, não teremos internet... posto tudo na segunda...

Centro de Delhi

Delhi 09/07/2005

Ontem acordamos umas 4 da manhã, sem sono, além de comer muito pouco estamos dormindo muito pouco também, decidimos que iriamos para o centro da cidade comprar roupas e algumas coisas pro nosso apartamento. Tentamos pegar um ônibus até o metro, mas tava impossível, pegamos um auto-rickshaw, e como sempre, a tarifa sempre custa o dobro do que se estivermos acompanhados de um indiano...
Chegamos no centro de Nova Delhi, existem duas Delhis a velha fundada pelos indianos cheia de monumentos, fortes e memoriais, e a Nova Delhu, fundada pelos ingleses, toda planejada. Chegamos lá as 10h00 e todo o comercio estava fechado, sem saber o que fazer ficamos parados conversando, foi quando um jovem se aproximou e perguntou se precisavamos de ajuda, conversamos com ele sobre vários assuntos, o cara perguntou se eu era indiano e disse que se eu usar as roupas nativas ninguém vai perceber a diferença... então fomos para um centro turisticos ver uns pacotes. Incialmente nos atendeu um tiozinho que falava devagar, e calmamente, nos apresentando a Índia região por região, dando dicas valiosas de como fazer um mochilão gastando muito pouco, de repente entra um outro cara muito mais alegre e extrovertido,perguntou se eu era indiano ou falava hindi... disse que se eu compra-se uns Pajamas ninguem saberia que sou estrangeiro, disse que eu parecia um indiano adotado por uma familia americana... Então ele começou a chutar uns pacotes loucos pelo deserto de Rajastan, por "miseros" 12500 rupias, outro pacote para Varanasi e Agra por mais 11000 rupias, muito caro pra gente... e pra fechar a parada ele ofereceu um tour de 3 horas passando por todos os principais pontos turisticos de Delhi pela bagatela de 400 ruppias. E finalizou dizendo que " Não me interessa se vcs são ricos ou pobres, só quero promover o turismo pelo meu maravilhoso país...".... Detalhe, uma passagem de trem para varasi custa 1200 ruppias, um onibus circular que passa pela cidade inteira custa 10 ruppias...
Saimos da agencia ( informações turisticas não vendem pacotes...), e fomos abordados por outro carinha, perguntou se precisavamos de ajuda, a Bia abriu a boca e ele nos guiou para um "Empório", lugar cheio de estatuas onde tudo estava a venda, pegamos o lugar abrindo, existe todo um ritual pra abrir o estabelecimento, muito loco. A loja tem 4 andares e uns 30 funcionários, todos tentando te empurrar alguma coisa, fomos abordados por um vendedor de tapetes... o cara ficou uma hora contando toda a história e o processo de fabricação dos tapetes, usos no dia a dia, e até uma versão portátil.. Eram 5 indianos desenrolando todos os tipos de tapetes, parecia um show o uma daquelas propagandas do shop tour... Ele não me convenceu de comprar um tapete por 3000, e começou a abaixar o preço, e contava histórias e mais histórias hehhehhe Pedimos para alguém nos mostrar algumas roupas, nos levaram para um segundo andar com desenhos e pinturas hindus, feitas com tintas e papeis especiais bla bla bla. Mais uma vez dissemos que queriamos roupas, nos levaram para a seção de Sarees (Lenços de 6 metros que se usa pra enrolar uma mulher inteira), os preços não agradaram a Bia tudo estava em torno de 2000 ruppias, o cara ofereceu outras opções mais baratas a Bia não quis, disse que não levaria nada, então dissemos que queriamos ver roupas masculinas, nos levaram para uma seção de vestidos e cachicoles... A bia se remdeu ao poder de venda do vendedor hehehh comprou um cachicol... Qd pensamos que veriamos roupas masculinas nos levaram para um lugar com suvernirs, tentaram empurrar de tudo... Finalmente roupas pra homem, comprei um pajama dourado, bem loco, as meninas gostaram pelo menos, mas tentaram me empurrar mais algumas peças, muito bonitas porém grana aqui não é nosso forte.
Chegando no local de retirada de mercadorias o vendedor de tapetes me aparece com o tapete verde que eu disse que gostei, e cochichou pra bia..." Diga pro seu amigo que o preço é 2500 ruppias" ... Conseguimos fugir do lugar, mas não nos livramos do "guia" que queria nos levar para outras lojas.. corremos em direção ao metro e fomos abordos por outros "guias" perguntando seu eu era indianos, nos esquivamos mas foi complicado hehheh
Chegamos no Sarai, encontramos Shveta e comemos de graça, de novo hua hua hua Marcamos de nos encontrar amanhã para visitar outros cybermohallas... Aproveitei pra mostrar minha roupa nova, as meninas disseram que eu poderia me passar por indiano fácilmente hehheh. Se essa é a opinião de todos, tá eu acredito que pareço indiano.....

Os indianos

Delhi, India 08/07/2005

Ontem acordei umas 4:30 da manhã, tinhamos combinado com Karunaka de acordar as 7h00 para ele nos levar para o Sarai de ônibus, ele acordou as 9:00 .... Andamos até o ponto, pegamos o ônibus 311 , não dava pra ler o destino estava escrito em sanskrito. Os ônibus são muito lotados, MUITO ! Estou acostumado a andar em ônibus superlotados mas aqui você chega a se machucar de tão apertado, sentam três pessoas por banco, uma quase que no colo da outra. O ônibus não para, ele reduz a velocidade e as pessoas vão descendo com ele em movimento mesmo.
Chegamos na estação de metrô, aqui o metrô é muito bom, as composições são novas e não é tão lotado. Uma coisa interessante é que o preço da passagem varia de acordo com a distância percorrida. E para completar a viajem pegamos um cycle-rickshaw, uma carroça puxada por uma bicicleta.
O ônibus custa 5 ruppias, o metrô 12 e o rickshaw 5, lembrando que 100 ruppias são mais ou menos 6 reais realmente foi barato.
Chegamos no Sarai atrasados, Shveta deixou um bilhete dizendo que não podia nos esperar e foi para um dos cyber-mohallas, eu levei o notebook pro Sarai mas esqueci a placa de rede, então não foi possível enviar as fotos dos dias anteriores nem mesmo o email que eu tinha escrito ontem... Sem muito o que fazer no Sarai, eu a Bia decidimos voltar pra casa e descansar, mas derepente apareceu
o Ashshi, que é o nosso orientador junto com a Shveta... ele parece ser o cara das finanças e falou da grana de residência, nos vamos receber no final de cada mês. Ele disse também que vai nos dar um telefone celular, qualquer coisa eu passo o número.
O Ashshi chamou um auto-rickshaw e fomos para um dos cybermohalla, foi quase 1 hora de viagem no transito maluco aqui da índia,
apesar do transito maluco até aqui não vi nenhum acidente... acho que como todo mundo dirige como louco eles sempre estão muito espertos, nunca vi uma garrafa de bebida em lugar algum então não acontecem acidentes.
O cybermohalla é uma casa em uma região de mansões, fomos recebidos com um almoço, comi pouco, alias por alguma razão estou comendo muito pouco aqui, fico satisfeito rápido, pode ser efeito da pimenta. Conheci um cara chamado Karim, ele é muito parecido comigo
senta num computador com uma galera de volta e começa a falar. O cara ficou meio que me testando, foi difícil , não consigo me expressar bem em inglês, e não entendo quase nada do que eles falam, é muito rápido... A bia entrou em pânico, mandou alguns emails pra galera, tentei convence-la que não era caso pra entrar em desespero mas essa é outra história.
Cansados dos embates voltamos pra casa de carona com um cara, mas a carona teve um preço, fizemos várias paradas uma delas um centro comercial, entramos em uma livraria os livros são bem mais baratos do que ai, um livro que custa 24 dolares nos EUA aqui custa 36 reais, jogos e programas de computador são absurdamente mais baratos, GTA San Andreas no Brasil custa 286 reais aqui custa 300 ruppias, coisa do tipo 18 reais, mais barato que o pirata ai no Brasil. Comprei um guia turistico da Índia com a Bia estamos planejando algumas viagens para Agra, Varanasi, Rodhpur e Tibet/Himalaya, vamos pesquisar os preços hoje. Saimos do centro comercial e conhecemos uma rua que é conhecida mundialmente pelos seus pratos Indianos, são barracas muito lotadas e cheios de turistas... Um nativo disse que a comida de lá é muito apimentada e que não seria uma boa idéia comer por lá tão no começo da nossa estadia. O indiano disse que precisariamos esperar seu amigo vir nos buscar de carro, ficamos mais de uma hora esperando, nesse meio tempo flagrei dos homens jovens andando de mãos dadas, depois descobri que isso é demonstração de irmandade, eles devem ser muito amigos mesmo.Essa rua é o point da galera.
Finalmente o cara apareceu e nos levou de carro para Patparganj, onde moramos, eu e a Bia demos um rolê pelos centros comerciais aqui perto, vimos um bando de vacas vira-latas comendo lixo... os cocôs dessas vacas são tenebrosos. Jantamos num lugar onde pela primeira vez comi com as mãos, agora minha mão esta com o cheiro dos temperos de ontem hehehh

Hoje vamos no centro da cidade comprar coisas e conhecer melhor a cidade, não sei se vou ter internet.

India

Ontem tive minha primeira experiencia com comida indiana, foi bem hilário, o jeito de comer é totalmente estranho pra nós... Sem fugir do assunto tenho uma suposiçãos sobre o porquê das pessoas passarem mal com a comida daqui, falta de higiêne ! A comida é realmente picante, muitas vezes é necessário misturar qualhada ou yogurte com o resto da comida, dizem que esses alimentos contém enzimas que eliminam a "quentura" da comida, se é verdade ou não eu não sei mas funciona. Voltando a minha suposição, os indianos de fato não usam papel higiênico, somente banheiros de lugares mais nobres tem o dito cujo. Eles usam a mão esquerda para limpar as coisas, por isso nunca coma com a mão esquerda com um indiano por perto, ele vai estranhar... Jamais ofereça a mão esquerda como comprimento, isso é uma grave ofença ! Mais uma vez voltando do gancho, se pelo menos boa parte dos indianos usam a mão pra limpar as coisas, fica claro que todos os lugares públicos são muito contaminados... Aqui as maçanetas, torneiras, corrimões são seus piores inimigos, depois de um passeio pelo centro, é obrigatório lavar bem as mãos, andar descalço jamais ! apesar de ser uma prática comum entre o povo daqui é muito arriscado. Preciso falar porque os turistas ficam doentes por aqui nas primeiras semanas ? É dificil se policiar o tempo todo.
Bom, falando de comida, é picante mas muito saborosa, comi um tal de Thali, uma travessa de arroz com dez condimentos diferentes, são pimentas refogadas, qualhada, gengibre, doce de abóbora, coentro etc... O prato é servido em uma forma daquelas de pizza forrada com folha de bananeira com os complementos em volta, então vc vira a travessa de arroz no meio da forma e vai misturando os temperos... algumas combinações são realmente muito saborosas, quando vc mistura as coisas elas assumem sabores muito diferentes, vc pode comer o mesmo prato todos os dias sem enjoar, até mesmo a ordem em que vc come influencia no sabor...Comi também uma "pizza" de arroz, onde ela é servida com três condimentos, doces e salgados, é só rechear e comer, alias comida indiana é sempre assim, várias opções diferentes no mesmo prato.
Finalizamos nosso jantar com um sorvete chamado "black florest" conhecido como floresta negra ! Nada mais é do que três bolas de sorvete, chantilly e bolo de chocolate por baixo... será que é bom ??? Tem um detalhe importante, as cerejas da sobremesa são de verdade !!! Tem até caroço !!!!!!!!!
Os indianos pagaram a conta e sem muitas palavras nos jogaram dentro de um auto-rickshaw e nos depacharam pra casa... auto-rickshaw é um tricículo de três lugares com motor de lambreta heheh.O motorista se perdeu, ou não queria nos deixar no lugar combinado, parou o veículo e ficou lá heheheh Tava desabando uma chuva danada, ficamos ilhados, como o motorista não falava inglês pagamos apenas parte do combinado, ele começou a falar algumas coisas em hindi, acho que tava xingando ehhehh
A pé, andamos uns 2 kilometros em uma tempestade, poças e poças de água de esgoto muita lama... Alias, pastamos pra chegar em casa, poucos falam inglês, e descobrimos que Patparganj não é o nome da nossa rua, mas de um monte delas ! Todas as ruas do nosso bairro se chamam patparganj, os nativos tem nomes próprios pras ruas e só eles sabem heheh. Temos três mapas aqui, somente as grandes avenidas tem nome, e em muitos casos tem nomes diferentes em mapas diferentes... e o pior é que os mapas oficiais do governo da índia
são os mais pobres em informação.
Eu e a Bia passamos boa parte da noite planejando nosso dia de hoje, no momento que escrevi esse texto eram umas 4h30, acordei com
alguém cantando uma musica linda em hindi... tipo aqueles cantos que a gente ouve nos filmes... perdi o sono hehheh
Lugar maluco, cada dia parece mais louca...