segunda-feira, julho 25, 2005

Oficina

Acho que estamos ficando conhecidos no bairro, pela manhã quando tentamos pegar um auto-rickshaw até o Viraat cinema em dakshin puri, sistematicamente os caras iam fugindo, "Putz, aqueles dois gringos que nos fazem atravessar a cidade por míseras 100 ruppias!"Depois de uma certa procura achamos um motorista que já tinha feito a corrida com a gente antes, ai rolou tranquilo.
Chegamos lá, não tinha computadores ehheh, não sei o que aconteceu, mas fiz uma oficina LowTech com apenas um computador e alguns desenhos, tentei fazer uma associação entre o funcionamento do computador e o compughar, até que deu + ou - certo, pra eles a placa de vídeo eram as paredes que mostravam seu trabalho, a memória RAM eram blocos de nota, o HD eram livros com o resultado dos trabalhos já desenvolvidos, placa de rede era a porta (!?), placa de som o mixer do lugar, a CPU eram eles mesmos e a placa mãe o espaço físico.
Impressionante, mas nunca consegui repetir uma oficina metareciclagem cada uma é completamente diferente da outra, essa daqui então... A abordagem é diferente, eles discutiam entre eles o tempo todo mas nosso interprete não traduzia as discussões... Aliás, o que me frustrou profundamente era o Aman que bloqueou boa parte das discussões mais profundas que propus, discussões sobre reapropriação tecnológica, lógica de mercado... O Aman não entendia, e ficava discutindo com a gente ao invés de traduzir... ele sempre quer interpretar as traduções, é um saco isso. Se nas próximas etapas das oficinas o Karim ou a Priya não estiverem disponíveis, seremos mais uma vez superficiais.
Os indianos são muito esculaxados, eu explicava a forma correta de manusear os equipos 10 vezes, e eles faziam errado dez vezes, parece desobediência civil... temo pela segurança deles, enquanto eu fazia a demonstração com a placa mãe ligada uma garota fazia "Aleluia" com uma caneta e uns plasticos quase em cima da placa mãe.
Bom, no geral eles aceitaram bem a oficina, disseram que aqui os cursos de computação são caros e sem nenhuma estrutura, e que essa oficina ofereceu muito mais do que eles já tiveram e que acrescentou uma nova dimensão ao trabalho deles. Bom espero que eles estejam sendo sinceros...
Uma coisa que me chocou bastante é o fato de nenhum deles saberem o que é playstation (!), essa é uma diferença cultural monstro, mesmo o garoto mais pobre de cidades do interior sabem o que é um video-game, mesmo sem ter visto um. Quando eu era moleque não tinha video game mas pelo menos 1 dos meus amigos tinha um de última geração... será que aqui garotos pobres não tem amizades com não pobres ? Mesmo assim no brasil a rede globo faz propaganda de produtos de luxo, se seu amigo não tem, pelo menos a TV mostra, será que aqui não rola isso ?
Bizarro...