segunda-feira, agosto 01, 2005

Lnjp VS Dakshinpuri

Fim dos conflitos internos, hora de trabalhar... chegamos no Lab em LNJP, tinha uma máquina no chão, e a meninada em coro: "Worukshôp ! Worukshôp !".
Sem ter pra onde fugir, comecei o workshop de (des)montagem, assim como no outro lab comecei pelos "warnings" e as diferenças já começaram a surgir...

Perguntas sobre eletricidade estática, mitos e crendices populares e etc... No Lnjp a galera é dispersiva por serem mais ativos, eles já tinham uma boa base de montagem de PCs então questões mais práticas surgiam o tempo todo, essa oficina foi muito mais profunda que a de Dakshin Puri.

Basicamente expliquei o funcionamento da BIOS, como funciona o processo de boot, expliquei como funciona placa por placa, e dependendo das dúvidas tinha que rebolar muito pra empacotar a informação se não o firewall bloqueava. Em alguns momentos eu tive que recorrer ao bom e velho inglês indigêna, conversar direto pra não correr o risco de perder informação . Eles perguntaram até mesmo que servia os terminais das placas... Realmente a galera é muito boa nesse lab... (In)Felizmente hindi tem muitas palavras do inglês, então era possível ouvir pérolas durante as traduções do Aman : "O disquete é lido por uma lente eletromagnética..." ou coisa do tipo.O legal desse lab, é que quando o Aman falava merdas desse tipo, algum dos garotos corrigiam a informação pro resto, isso me deixou mais tranquilo, porém eu não sei se os garotos de Dakshin Puri tiveram a mesma sorte...

O tradutor que no início se sentia confortável pensando que era só repetir oque que foi falado no outro, caiu do cavalo pois teve que reaprender tudo, e foi atropelado várias vezes pelo inglês de índio.
O ritmo era acelerado, deu pra falar quase tudo e eles montaram o computador todinho e o melhor fizeram isso juntos.

Eu já falei que o nosso interprete é um Sikh ? Sikh é um ser iluminado que veio a terra para iluminar a vida de todos os pobres selvagens sem instrução e o mínimo de civilização. Sikhsm é a religião mais jovem da índia, uns 500 anos, e prega a unificação de todos os deuses, o fim das castas, o fim das superstições... Um Sikh tem o dever divino de arrebanhar e guiar todos os seres para a luz, relações sexuais com mulçumanas é proibido ! E para arrebanhar melhor, eles conhecem bem todas as religiões. Então ele tentou arrebanhar a Bia, dizendo que o próprio Jesus Cristo disse que pra entrar no paraiso vc deve encarnar 84 vezes, tá na biblía.... E normalmente as imagens em que o Jesus aparece ele é azul (eu vi uma), assim como Shiva, Krishna, Vishnu etc ...
Ele pediu para a Bobby (mais uma das boina gilrs), muçulmana, que demonstra-se o ritual de oração... enquanto ela fazia os gestos e explicava ele fazia comentários até que ele soltou : "Esse ritual todo é estúpido, pra que isso ?" ... A Bobby deixou o cara falando sozinho... Esse é nosso interprete.

A oficina de pintura foi ainda melhor, eu só participei no início ajudando a desmontar os micros, os interpretes só foram acionados durante a explicação de : "Como desmontar um monitor sem destruir o monitor e/ou a si mesmo." O resto do show eles mesmos comandaram restando a mim o papel de pitaqueiro, guardião da mistura das cores primárias e auxiliar geral de pintura. Legal é que mesmo sem ter muito trabalho foi o dia mais cansativo desde que chegamos.

Depois da oficina de pintura corremos para a feira de Dakshinpuri. Você sabia que na índia existem coletores de impostos de deus ? Os caras cobram uma taxa para alimentar os pobres coitados que rezam a noite toda durante a feira. Existem os coletores de impostos da feira também, para usar o espaço 20 ruppias...
A galera chegou num rickshaw, 5 pessoas em um veículo pra 2, e o Lakhmi com suas perguntas cabeludas começou a perguntar como eu me senti dando oficina no Lnjp, as diferenças que eu percebi e tal. Então ele começou a falar que o povo do lnjp é vqv, o povo de dakshinpuri reflete mais suas ações, tipo tentando justificar uma possível comparação que poderia surgir.

Bom, vamos comparar as duas oficinas, em dakshinpuri, maioria absoluta hindú, eu senti que a galera é mais pensadora e ficam associando a relação espaço, pessoa, tempo, sentimentos etc.. Por isso fiz a brincadeira de associar o funcionameto do compughar com um computador. Em Lnjp, mulçumanos e cristãos, é uma galera tecnicamente superior muito mais ativa , menos bla bla bla e mais ação.

A oficina em DP foi mais lenta, tinha que trabalhar as associações, tentar vencer o firewall, responder perguntas cabeludas do Love, forte preocupação com o processo... No lnjp rítmo alucinante, chutando o firewall pelas duas pontas a minha e a deles, perguntas cabeludas mas menos filosófica e preocupação forte com o resultado.

Na hora de montar o micro, em DP nem todos participaram e cada um montou a máquina sozinho pelo menos uma vez (processo), em Lnjp todos montaram a máquina juntos, trabalho rápido e muito eficiente (resultado).

Na oficina bônus de animação, em DP cada um fez uma animação, em lnjp todos participaram de todas as animações, de um lado animações curtas e pessoais do outro, animações longas bem elaboradas.

Oficina de pintura no DP, eles propuseram desenhos complexos e eu tive que pintar, resultado, meio gabinete pintado. Em lnjp, todos participaram, resultado : 3 gabinetes, 2 monitores, 3 teclados, alguns speakers tudo pintado.

São duas formas diferentes de trabalhar, uma mais arrastada, profunda, filosófica ... a outra rápida, eficiente não menos profunda, focada em resultados. Quem está certo ? Quem está errado ? Nem eles sabem , afinal um lab ataca o modelo do outro, auto-preservação. Mas os resultados apesar de diferentes são muito bons, cada um ao seu modo.

quinta-feira, julho 28, 2005

Meta Índia + Separados

Dureza total, clima ruim pra caralho, mas muita coisa pra fazer rolar...

Bia acordou fez alguns telefonemas, e disse "Liguei pro Aman, desmarquei tudo, vou fazer uma reunião com o Ashish e pedir um tradutor Português-Hindi"... Eu questionei alguns pontos dessa decisão, mas ela seguiu firme e forte na sua decisão... fiquei preocupado
com o seguinte: Se for pra resolver o problema, o Aman é demitido já e Ashish sai correndo atrás de um tradutor como o que a Bia especificou... com isso perdemos algumas semanas, péssima idéia. Se não demitir o Aman já, não existe pressão pra contratar outro tradutor e tudo continua na mesma, péssima idéia. Com isso conclui que a decisão da bia era um movimento ruim, muito radical, pouco efetivo e poderia gerar um certo desgaste.

Não apoiei a empreitada, a bia foi sozinha no sarai e eu fui sozinho para o Lnjp... Essa foi a melhor coisa que fiz, cheguei lá não tinha luz elétrica, calor muito forte, tentei explicar porque o Aman e a Beatriz não estavam lá, foi muito divertido pq eu não falo bem nem eles , usamos um vocabulário mais simples, uma gramática de índio e todo correu bem hehheh.

Conheci Ashish Negi, um moleque cabeludo, cheio de gás, acha que sabe tudo , ele fez vários questionamentos técnicos sobre reciclagem de computadores, tipo : "Pq vcs não aproveitam placas-mãe danificadas ?", "O que vcs fazem com o material que não pode ser reaproveitado ?", "O que vcs tem pra nós ? Só isso ? Isso a gente já sabe ! O que mais vc tem ai ?". Muuuito firmeza o moleque, ele me contou que já ocorreram inúmeros, mas inúmeros workshops de montagem de micros nos cybermohallas, e que o pessoal de dakshin puri é coxa, eles nunca aprendem nada (gargalhadas generalizadas). Me contaram que a Pinky é a mais velha no cybermohalla (25), e que ela fez todos os workshops e não aprendeu a usar direito o computador, montar micros nem nada... eles zoaram muito.

Perguntou sobre o mercado de PCs no Brasil, de quebra viu o andarilho e disse: "Velhinho seu laptop hein ?"... me disse que um bom laptop aqui custa 44000 ruppias, coisa de 2400 reais...
O telefone tocou, era o Karim, Karim é o Fernando dos cybermohallas heheh, é um cara com que me identifico muito, ele administra as redes dos compughar, ensina a molecada a como não destruir a rede, administrar pequenos pepinos, conta um monte de histórias... manja alguma coisa, assim como eu hehheh. "hello Fernando, please try setup the internet conection in Lnjp!".
Eu juro que tentei, eles tem um modem paralelo ligado a uma linha telefonica dedicada ( preço fixo ), sendo assim não há segredo, basta conectar... eles usam gentoo nos cybermohallas, uma distro que conheço muito bem, alterei todos as configurações, mudei uma porrada de scripts e só recebia BUSY, BUSY, BUSY pra qualquer número, depois de 1 hora eu tive a curiosidade de colocar meu fone de ouvido na saída P2 do modem... uma voz susurrante dizia algo em inglês, e depois em hindi seguido de um tu...tu...tu...

Tirei o modem da linha telefonica e botei um telefone comum... "Your line is disable, please contact you provider...Apna he disable apkahe line, chiakta apka privider...tu...tu...tu....". Sem comentários, os caras não pagaram a conta.

Com três horas de atraso o Karim chegou e desabou no chão : "Hei Fernando, you drive ?"... "Nop"..."You're a Luck Man", ele estava no trânsito hua hua hua, conversamos sobre o incidente Aman ,ele lamentou esse problema, disse que teria uma reunião com a Monica e o Deebeesh, então falamos sobre o Big Workshop, ele pediu uma reunião sobre o assunto.

Falamos sobre tecnologia e meta-índia, os cybermohalla tem pouco interesse em adotar máquinas velhas, o projeto tem grana, não tem ambição de crescer, mas mesmo assim o Karim encherga essa possibilidade interessante mesmo com todos os problemas que isso vai gerar:

*** CyberMohalla não é acesso a internet : CyberMohalla grosseiramente pode ser chamado de centro de mídia, e para isso é necessário computadores com capacidade multimídia, como Gimp (ok) , Audacity (Em máquina velha, Nem), OOfice (Nem), Abiword (Nem), Cinelerra (Nem), Ardour (Nem), Firefox (Nem), Gravação de CD (ok) ... e de preferencia em tudo em Hindi...

O grande problema, é uma tendencia forte do software livre em ficar pesado, infelizmente com raríssimas excessões todos os softwares livre estão seguindo a lógica macabra do mercado que dita que vc deve adquirir um novo computador a cada 3 ou 4 anos. É claro a velocidade em que isso acontece é diferente para cada tipo de software, mas na média isso já está limitando uma instalação completa e funcional do linux a computadores pII com no mínimo 64Mb de RAM. Para máquinas velhas pro cybermohalla levantamos a seguinte lista de softwares :

* Processamendo de Textos : gedit, xedit, nedit, emacs ou vim.
* Browser : Dillo, Opera 5 ou elinks-x11
* Graficos : Gimp

Nada de Áudio ou vídeo nessas estações:
Só comentando: O opera mesmo feito em QT ainda é o Browser mais leve dos top de linha, o firefox não é leve, não viaja ! O Minimo, browser leve da mozilla fundation, não é leve, tenta rodar ele num p100 com 32 e depois me conta.

Abiword não é mais boa opção pra máquina velha, aquele monte de rederizadores de fontes e novas funcionalidade do gtk2 dobraram o peso do bixo... O gimp2 ainda é usavel em máquinas velhas, ainda.

Tirei da mala um velho projeto meu, chamado STLTS (Small Tatical Linux Terminal Server), onde máquinas com no máximo 64 Mb de RAM rodariam aplicações específicas remotamente, um servidor roda firefox, o outro só roda openoffice etc... Como os servidores vão rodar várias instâncias do mesmo software pode haver uma economia enorme de RAM no servidor e um desempenho decente para os clientes.
Isso é quase como um cluster sem migração de processos, máquinas especializadas em determinadas aplicações.
O Karim achou a idéia legal, mas disse que não saberia como fazer, eu dei os passos, mas esqueci o fundamental... me oferecer pra ajudar hehehhe Ainda há tempo.

Outro problema, a questão da língua... muitos dos softwares mais leves não tem suporte a UTF-8 ou fontes TrueType necessárias para internacionalização do software... isso gera uma demanda muito forte que o karim não sabe como resolver...

Bom cheguei em casa, comi Lady Fingers (Quiabo), e dormi, várias horas depois a bia chegou. O Ashish disse que vai tentar um tradutor, mas pode ser muito caro coisa de 1000 rupias dia (R$ 50), não deu muitas esperanças. A bia encontrou o Deebeesh também, e falou sobre uma reunião de planejamento na segunda feira... é isso.

Lnjp + aperreio

Hoje estou em LnJp, uma "favela" que fica em um terreno cujo o dono é um banco muçulmano...
O lugar é muito feio, sujo, eu vi um tiozinho puxando uma carroça com carne crua recem abatida e centenas de moscas fazendo a festa. Essa é uma indicação de território muçulmano, os hindus não comem carne, certo eles, comer qualquer proteína animal por aqui deve ser um atentado terrorista a saúde alheia. Em todos os lugares qualquer tipo de carne é mal acondicionada, espetos de frango ao ar livre durante todo o dia, as moscas pondo ovos o dia inteiro hhahaha Imagino qual deve ser a porcentagem entre as proteínas de frango e dos insetos que põe seus ovos nela.
Surpreso mas nem tanto, fomos bem recebidos e a galera daqui é menos passíva que os de Dakshin Puri, o tempo todo perguntando sobre sugestões para os textos e opiniões diversas... mas é difícil, ter uma opinião ou sugerir algo apenas com o resumo dos textos...
O lnjp é o lab mais antigo dos cybermohalla e vários jovens que estão lá hoje são da época da inauguração. Durante os intervalos crianças que nem devem saber escrever ficam tentando usar os micros sem ao menos saber o que é um mouse, no fim acabam se contentando (heheh) apenas com alguns joguinhos e tals...
Rolou uma discussão meio tosca entre eu e a bia, com o ff de ouvinte sobre o Aman... o problema foi o seguinte, o cara não traduz o que não entende, se pra ele uma idéia não faz sentido ele fica discutindo... discutindo... Se tenho extensa e complexa idéia o ideal é quebrar em pedacinhos e pedir pro cara traduzir, com ele isso não funciona. Se tentar passar pra ele a idéia completa, ele entende e resume em uma linha pros meninos... porra !
O cara teve a pachorra de mandar um email pro Ashish e a Shveta dizendo que estavamos gostando das traduções dele, pqp, eu não gosto das traduções dele. Eu sugeri a bia a escrever uma pequena réplica ao email dele, afinal ele mentiu, com cópia pro Ashish e Shveta, ela disse não, eu disse que faria mesmo com meu inglês ruim. Aproveitei um email do ff pra relatar parte do problema, e começou o flame war... A bia acha que ele tá melhorando, antes ele não traduzia nada, agora ele traduz alguma coisa e que uma carta poderia pegar mal coisa e talz... eu disse que não mandaria uma carta seria algo curto blablabla. Deixei claro que meu trabalho aqui na índia não seria completo sem falar da coisa filosófica que está por traz do nosso trabalho... a bia falou que o trabalho dela tava rolando legal... eu lembrei a ela que eu peguei o mesmo avião, também vim pra cá e o meu trabalho corria risco de não rolar por causa do tradutor... A discussão foi pro lado pessoal e ai fudeu tudo.
Desde esse episódio silêncio quase total...

segunda-feira, julho 25, 2005

Oficina II

Depois de ter perdido uma foto incrivel de um elefante, perdi outra foto incrível de uma fila indiana de camelos e um macaco no metro... Pelo menos estamos barganhando mais com os motoristas de Rickshaw, mais exigentes com o comercio e comendo mais. A Bia tá melhor, tá até falando de fazer uma proposta pra voltar pra cá no fim do ano. Ela conheceu Priya que faz rádio no Sarai e pensa em desenvolver umas paradas junto com ela.
A gente conheceu um Holandês que pesquisa sobre desenvolvimento auto-sustentável, ele disse que conheceu o FF e o Alê no Incommunicado bla bla bla.
Bom, a minha fase de sombra por aqui já passou, como só a bia falava no começo durante as apresentações eu ficava meio no papel de homem samambaia, com o tempo as pessoas do sarai nem tentavam falar comigo... isso foi péssimo, por causa disso perdi o papo com o Deebeesh (nem fui chamado!). Somando isso com o episódio dos livros, realmente não fiquei muito feliz com essa situação.
Com as oficinas a parada ficou um pouco diferente, estou sendo obrigado a falar pois tenho dois firewalls na minha frente: Bia e Aman... A merda é ser interpretado e não traduzido ! Eu falo algumas coisas que são barradas pela própria Bia devido a suas limitações tecnicas ou por achar que não é relevante, e outras são barradas pelo Aman pelo mesmo motivo, muitas vezes me vi na situação de ter que explicar, em off, alguns detalhes diretamente para os jovens em uma mistura de português com hindi e inglês, muito e muito gesto... se no primeiro dia de oficina fiquei pendurado totalmente na Bia, no segundo e terceiro ela teve tempo até pra redigir um texto enquanto eu dava a oficina. Somente em casos mais complicados eu recorria a Bia, no geral eu os os indianos perguntavamos como se falava essa ou aquela palavra em inglês/português.
Isso foi muito bom porque quebrou uma certa distância entre os jovens e eu, algumas meninas demoraram 3 dias pra descobrir que eu não falava inglês muito bem, penso que elas achavam que eu não queria falar diretamente com eles ou coisas do tipo. Agora fiz até umas amizades, os garotos me chamam de Baico (irmãozão), converso na medida do possível com as meninas que falam inglês sem a ajuda da Bia e com outras vai com gestos mesmo, como no caso da Pinky e da Sunita (Astrid).
Falando em Pinky, tenho a impressão que ela tá me sondando hahaha, olhe minhas fotos no flickr, ela sempre está do meu lado ou muito proxima de mim, vira e mexe ela pergunta sobre coisas que eu gosto, o que não gosto, que quer aprender português, ir pro Brasil, que meu sorriso é lindo, que meus olhos são bonitos etc...etc..etc... Sem tirar que muitas vezes ela conversa com a Sunita (a que fala inglês) e as duas ficam cochichando olhando pra mim, o tradutor entende o que elas falam, olha pra mim da uma rizadinha levanta e sai fora... M.E.D.O. Será que estão tramando um casamento ? hahhaha
Ah, a Pinky nos convidou para jantar na casa de seu tio, rapaz... nunca comi uma comida tão boa desde que cheguei aqui, o tio da Pinky é um artista plástico premiado internacionalmente, 4 vezes, ele tem uma deficiência na perna e ele trabalha em diversas ONGs aqui em Delhi, o cara é bom, pena que ele vende todos os seus quadros, vimos apenas fotos.
A oficina teve seu conteudo técnico bem administrado, muitas vezes tive que me aprofundar bastante em alguns assuntos, a molecada não se contenta com pouco, realmente pra dar uma oficina pra essa garotada tem que estar muito bem preparado e dominar por completo o assunto, se não você é destruido. Nunca me aprofundei tanto numa oficina,tive que explicar as diferenças entre o processo de gravação de um CD-R, CD-RW... funcionamento interno de um HD, floppy e o papel do sistema operacional nisso tudo.
Mas a parte conceitual de metareciclagem foi barrado pelo firewall (aman) em vez de traduzir ficou discutindo com a gente sobre a bagaça...
Bom, de bônus dei uma oficina de animação, eles fazem muita coisa com GIMP, é assustador a paciência que eles têm pra fazer trablhos incríveis com a ferramenta, mas não vi nenhum trabalho com máquinas fotográficas, tipo animação com objetos ou desenhos, propus algumas animações na lousa e com objetos, os resultados foram muito legais.
Além de propor uma oficina de pintura de máquinas, que não rolou direito ainda por falta de máquinas, estamos esperando o sarai conseguir as máquinas... seja como for pintamos uma máquina com a ajuda do premiado tio da Pinky.
Propus também uma oficina de pipas pro dia 14 e 15 de agosto, vai vendo....

Oficina

Acho que estamos ficando conhecidos no bairro, pela manhã quando tentamos pegar um auto-rickshaw até o Viraat cinema em dakshin puri, sistematicamente os caras iam fugindo, "Putz, aqueles dois gringos que nos fazem atravessar a cidade por míseras 100 ruppias!"Depois de uma certa procura achamos um motorista que já tinha feito a corrida com a gente antes, ai rolou tranquilo.
Chegamos lá, não tinha computadores ehheh, não sei o que aconteceu, mas fiz uma oficina LowTech com apenas um computador e alguns desenhos, tentei fazer uma associação entre o funcionamento do computador e o compughar, até que deu + ou - certo, pra eles a placa de vídeo eram as paredes que mostravam seu trabalho, a memória RAM eram blocos de nota, o HD eram livros com o resultado dos trabalhos já desenvolvidos, placa de rede era a porta (!?), placa de som o mixer do lugar, a CPU eram eles mesmos e a placa mãe o espaço físico.
Impressionante, mas nunca consegui repetir uma oficina metareciclagem cada uma é completamente diferente da outra, essa daqui então... A abordagem é diferente, eles discutiam entre eles o tempo todo mas nosso interprete não traduzia as discussões... Aliás, o que me frustrou profundamente era o Aman que bloqueou boa parte das discussões mais profundas que propus, discussões sobre reapropriação tecnológica, lógica de mercado... O Aman não entendia, e ficava discutindo com a gente ao invés de traduzir... ele sempre quer interpretar as traduções, é um saco isso. Se nas próximas etapas das oficinas o Karim ou a Priya não estiverem disponíveis, seremos mais uma vez superficiais.
Os indianos são muito esculaxados, eu explicava a forma correta de manusear os equipos 10 vezes, e eles faziam errado dez vezes, parece desobediência civil... temo pela segurança deles, enquanto eu fazia a demonstração com a placa mãe ligada uma garota fazia "Aleluia" com uma caneta e uns plasticos quase em cima da placa mãe.
Bom, no geral eles aceitaram bem a oficina, disseram que aqui os cursos de computação são caros e sem nenhuma estrutura, e que essa oficina ofereceu muito mais do que eles já tiveram e que acrescentou uma nova dimensão ao trabalho deles. Bom espero que eles estejam sendo sinceros...
Uma coisa que me chocou bastante é o fato de nenhum deles saberem o que é playstation (!), essa é uma diferença cultural monstro, mesmo o garoto mais pobre de cidades do interior sabem o que é um video-game, mesmo sem ter visto um. Quando eu era moleque não tinha video game mas pelo menos 1 dos meus amigos tinha um de última geração... será que aqui garotos pobres não tem amizades com não pobres ? Mesmo assim no brasil a rede globo faz propaganda de produtos de luxo, se seu amigo não tem, pelo menos a TV mostra, será que aqui não rola isso ?
Bizarro...